segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Os dias do silêncio

Longos dias de silêncio vieram.
Transformaram-me em pedra,
Em árvore, em raízes a crescer
Na profundidade das coisas.

Um tempo de silêncio necessário
Para ouvir os gritos
Tantas vezes emudecidos
No peito e no sangue a ferver.

Uma pausa na canção da vida.
O tempo para embeber as palavras
No néctar maduro das ideias
Há anos, no interior, a repousar.
Elegia ao nosso silêncio

Tudo começou com o silêncio.
Os beijos substituíram as palavras,
E as palavras deixaram de ser necessárias.
No silêncio, os gestos falavam
E o nosso olhar confirmava o que diziam
…em surdina.

O mundo e os seus relógios paravam
Para assistir aos nossos momentos.
O mesmo tempo que me rouba, agora,
As tuas mãos, o teu olhar e a tua boca
E me abandona neste silêncio
En-sur-de-ce-DOR!

Não, não quero ver-te partir em silêncio,
Quero gritar!
E gemer como um animal ferido!
Porque hoje,
Sou pássaro sem asas
E vejo-te voar
Sem te seguir.
Pássaros de Fogo

Qual o sabor das Palavras
Quando pronunciadas?
Que cor têm
E que força?
As palavras que saem da boca
São pássaros de fogo,
Sem ninho e sem poiso,
Buscando o lume do entendimento.

Por vezes, são brisa leve,
Outras,
Tempestade,
Invernia,
Canto de cigarra,
Terra molhada,
Tarde de Verão…

Mas sempre
Livres
Imortais
Pássaros de fogo
Que criam
Ou destroem
Os trilhos
Cinzelados
Da Razão.