segunda-feira, 5 de março de 2012

A vida é transformação

Fénix

Eu própria colhi
Os paus de canela, mirra e salva
Em que ardi
E da cinza que restou
Renasci
Mais livre e forte
Do que fui.

O sol nasceu mais dourado,
Recomeço glorioso do dia.
Envolta num halo encarnado,
Sou livre como um pássaro sagrado,
Sou Fénix renascida das cinzas
Das penas do meu Passado.

Nadina Carvalho in "Os Dias do Silêncio"

Amar é celebrar!

Onde mora o Amor?


Ele enterra as palavras no peito,
Adormece-as com o seu silêncio
E espera que decifre no olhar
Tudo o que espero que me diga.

As palavras são estandartes brancos
Que omitem os seus pensamentos
E as emoções diluem-se
Na brandura dos seus gestos vagos.

E toda esta ambiguidade
Me leva a questionar
Onde mora o Amor,
Em que lugar?

Será no peito,
Esse lugar apertado e sem janelas
Cujos segredos guarda só para si?

Ou será apenas uma mera ideia
Perdida entre a imaginação e o vazio?

O Amor é demasiado grande para guardar
Demasiado belo para esconder.

Amar é celebrar,
Pintar as palavras de mil cores
Encher o olhar de brilho e estrelas
E com elas coroar cada momento.

Por isso...
Onde mora o Amor,
Em que lugar?


Nadina Carvalho in "Memórias de uma Lua"

Todos somos livres!

Caracol


Caracol, carregas com a tua casa.
Nunca conseguirás libertar-te.
Foge de casa!
Corre o mundo!
Também tu és livre
De fazer tudo!
Porque permaneces mudo
Na tua lenta vida?
Não vês o pássaro voar,
A emigrar para Norte?
Caracol, bicho sem sorte!
Essa é a tua verdade.
Nunca conhecerás o mundo.
Nunca provarás a liberdade.

Nadina Carvalho in "Memórias de uma Lua"

O doce convite do Amor... :)

Convite

Vem
Com a força da alvorada
Inundar as minhas tardes
Romper as amarras das minhas asas
Ser sombra e luz e tudo
O que me insufla de vida.

Vem
Percorrer este caminho comigo
Ser prolongamento do meu ser
Beber segredos na junção das bocas
Perder-te no silêncio dos meus gestos
Tornar real o que imagino.

Vem
Desaguar em mim
Ser princípio, meio e fim
Da história que nos fez
Ser quem somos.

Nadina Carvalho in "Os Dias do Silêncio"

O Homem que se perde e vive à margem da sociedade, perde-se de si mesmo.

Homem sem nome

Diz-me quem és, homem sem nome!
Vagueando nas ruas e morto de fome.
Sem tecto, sem esperança e sem vida.
Apenas um vulto, uma alma perdida.

De bolsos vazios e coração desfeito,
Já teve emprego, família e respeito.
Agora nada tem e nada é,
Sem eira nem beira, apenas ralé.

De olhar sempre triste e mão estendida,
Contando as esmolas, assim passa a vida.
Esquecido por todos, uma nuvem de fumo,
Um homem sem nome, um marginal sem rumo.


Nadina Carvalho in "Os Dias do Silêncio"

Só com consciências despertas e alertas seremos capazes de caminhar com passos firmes. :)

Domadores de Mentes

Todos têm uma cor
Ou um credo,
Mas eu
Não sou de cor alguma,
Nem acredito em nada deste mundo.
Alguns tentam, em vão,
Pintar-me da cor
Que julgam a melhor,
Na esperança de que os siga.

Mas neste mundo de domadores
De mentes, sou livre
De conduzir meus próprios passos.
Não confio a minha vida
A falsos líderes com pés de barro.
Apenas as pedras me afastam
Por outros caminhos
E a consciência me comanda.

É o medo da dúvida
Do abismo
Da incerteza
Que leva o Homem a deixar-se ir
Na corrente que o arrasta.
E embora, também eu, tenha medo
De continuar a rasgar
Os pés descalços
Nas pedras dos caminhos da vida,
Tropeçando a cada passo
Nos abismos que se abrem a meus pés,
Ainda assim, enfrento
A corrente contrária deste rio
que, continuamente, me tenta
Levar os remos.


Nadina Carvalho in " Os Dias do Silêncio"

A docura e pureza da infância

Discurso do Sangue e dos Afectos

Da infância guardo o sabor doce das tardes
De sol, de recreio e de brincadeira
Do cheiro da terra e do pão com manteiga
Das gargalhadas sinceras, dos vestidos de cor
E dos arranhões curados com saliva.

Lembro as histórias arrancadas de trapos e bonecas,
De como as insuflava de vida.
E da minha cadela preta que me lambia o rosto.
Do sorriso do meu avô, do olhar singular da minha avó,
Das brincadeiras do meu pai, da minha mãe sempre atenta a tudo
E da forma como ajudaram a fazer-me quem sou hoje.

Nunca esquecerei a minha infância!
Guardo-a no silêncio da minha pele, do coração faz parte
De mim e do meu universo, rima com tudo
O que guardo nas células e na mente.
É o discurso do sangue e dos afectos que,
Verso a verso, revela quem eu sou.


Nadina Carvalho in "Os Dias do Silêncio"